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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Meu Curso de Cantonês: Estudo vs Depressão

Estudar não é fácil pra ninguém, mas quando se sofre de depressão, isso se torna um verdadeiro desafio. 




Como todo mundo sabe, a depressão é um transtorno de humor que diminui muito a nossa capacidade de aprendizagem, de concentração, de raciocínio, de sentir alegria... enfim, de enxergar a vida de uma maneira positiva. E o estudo é algo que depende muito dessas coisas, de que você esteja motivado, com a mente sadia, para aprender bem. Se você não está bem, a seu rendimento será bem reduzido.

Eu tenho passado por esse problema. Eu quero estudar, mas a depressão tem me atrapalhado muito. Não apenas ela, como também a ansiedade e algum outro transtorno de humor que eu desconfio ter, mas ainda não tive nenhum diagnóstico.

Já não tenho mais a preocupação e interesse em fazer uma faculdade ou concurso público. Eu já nem quebro mais a minha cabeça com isso. Pois já foi um verdadeiro fardo ter que passar anos na escola sendo obrigada a estudar coisas pelas quais eu não tinha nenhum interesse. E hoje eu não aguento mais. 

Mas eu reconheço que é importante que nós saibamos de algo; que nós sejamos formados em algo. Porque infelizmente o mundo exige isso, que você saiba de algo para que você possa prestar serviço à sociedade. Você tem que contribuir! 

E de certa forma eu até concordo. Tantas pessoas trabalham, fazendo a sua parte. Por que então, eu vou querer apenas receber e não doar nada?

Por essa razão, eu procurei algo para estudar que não me servisse apenas como uma ferramenta de trabalho no futuro, mas que fosse também do meu interesse pessoal, que me causasse satisfação e que não me parecesse impossível de aprender. Eu escolhi aprender a Língua Cantonesa, já que há muitos anos eu tenho interesse pelas línguas chinesas.

No entanto, tem sido um grande desafio para mim, devido os meus transtornos de humor. Não tem sido nada fácil. Eu não tenho conseguido me organizar, criando um cronograma de estudos. Não tenho conseguido passar mais que 10 minutos estudando os caracteres chineses. E esses 10 minutos, eu não tenho conseguido fazer todos os dias. Eu tenho vontade, mas não consigo nem começar e, quando começo, dificilmente termino. E quero​ frisar que a minha dificuldade não se deve (pelo menos no momento) ao grau de dificuldade do idioma, mas ao meu estado mental.

O engraçado é que nas vezes em que eu consegui concluir as lições, achei tão bom e tive uma satisfação tão grande que pensei "Poxa! Por que passei tanto tempo sem estudar? Pois foi tão bom!" e disse mais "Ah, eu não vou procrastinar mais, estudarei regularmente!".  Mas no dia seguinte eu estava totalmente desanimada e parece que não conseguia me lembrar da satisfação que tive no dia anterior.

Eu pegava o material e dizia "vou deixar pra estudar às 19:00 horas", mas chegava a esse horário e dizia "às 20:00 eu estudo" e chegava  às 21:00, às 22:00, acabava me dando sono e lá se ia mais um dia sem estudar nada. 

Isso tem me angustiado muito, porque já acreditei que se eu estudasse algo que eu gostasse conseguiria levar os estudos em diante sem sentir a sensação de que estou sofrendo. Mas eu estava enganada.

Eu já disse várias vezes que iria desistir de vez do cantonês já que isso só está me trazendo angústia, mas eu não consigo esquecer. Eu acordo pensando nisso, não consigo deixar pra lá o sonho de entender um pouco de cantonês um dia.

É como uma mãe que tem um filho muito problemático envolvido com coisas erradas e não a respeita. A mãe tem vontade de abandoná-lo, pois vê que não vale a pena perder seu tempo e quebrar a sua cabeça com ele, mas o instinto materno não deixa. Mesmo triste, decepcionada, até aborrecida e sofrendo, ela não consegue largar o filho. Sempre o acolherá. É esse o exemplo que consegue ilustrar a minha relação com o Cantonês. 

Eu vejo que essa situação está me angustiando, mas não dá mesmo para esquecer. Sempre que eu vou ouvir uma música e me deparo com os títulos escritos em chinês, tenho vontade de ir pesquisar o significado e a pronúncia. Mas acontece algo muito estranho comigo. Parece que existe um ser dentro de mim que diz "Aaaan, você está pesquisando, é?! Não vai mais, pois isso de certa forma é um estudo e você não pode estudar!". Daí esse ser segura os meus dedos e não me deixa concluir a pesquisa. 

As pessoas ao meu redor pensam que eu não estudo simplesmente porque não quero; que eu não trabalho, simplesmente porque eu não quero, mas definitivamente não é isso. Eu estou vivenciando a depressão.

Eu já fui diagnosticada com depressão em 2012, mas acredito poder sofrer de algum outro transtorno de humor. 

Infelizmente eu preciso recorrer a tratamentos psiquiátricos, porque não dá pra viver desse jeito, com essa angústia de não poder estudar. Isso me desperta muitos desejos suicidas, e eu acho muito ruim ter esses pensamentos. Não por condenar o suicídio, até porque eu particularmente acho um ato de muita coragem por logo um fim em tudo e parar com toda essa balela. Mas me angustia porque eu não consigo concretizar o ato. Então não vale a pena alimentar essa ideia. 

Eu vou em busca de um tratamento psiquiátrico, embora eu já tenha tentado uma vez e não ter gostado. Mesmo assim vou tentar mais uma vez e,  desta vez, vou fazer um apelo ao médico, dizendo "Doutor, pelo amor de Deus, tente resolver o meu problema, pois isso me faz sofrer demais"

E não vou me importar se me der vontade de chorar na frente do médico. Vou chorar mesmo, porque parece que só assim as pessoas conseguem perceber o quanto você está se sentindo mal com o que está vivenciando. 







7 comentários:

  1. É uma pena que a depressão tire de você a vontade de estudar ao mesmo tempo que você quer tanto aprender um idioma novo.
    Meu conselho é aquele de sempre, tente aprender cantonês na prática, sem o método tradicional, fique ouvindo suas músicas, veja filmes, quando encontrar uma palavra que ache interessante, olhe no dicionário... Vai aprender por osmose, depois fica mais fácil se você quiser tirar alguma dúvida de gramática.
    Quando a estudar, talvez algumas coisas na vida a gente consiga fazer sem passar pela educação tradicional, por exemplo (só um exemplo mesmo), tem que viva de cozinhar e aprendeu tudo, botando a mão na massa, nunca precisou passar por uma escola de culinária.
    No mais, espero que um dia você supere tudo isso. Não se force demais.

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    1. Oi, Watashi! Muito obrigada pelo comentário.

      É, é isso mesmo o que eu vou fazer. Vou seguir a sua sugestão e absorvendo conhecimento naturalmente, sem precisar parar mesmo pra estudar a sério.

      Sim, há pessoas que trabalham sem precisar de diploma, nem curso algum. Mas infelizmente não sei mesmo o que poderia fazer para ganhar dinheiro...

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  2. Esse relato lembra os meus momentos de estudo. Começo a pegar entusiasmo pela matéria pela qual estou estudando com afinco no dia e no outro não tenho mais vontade. Me saboto dormindo demais, tendo um cansaço até de ler uma linha de um livro... Acabei lendo o que o Watashi disse e seria uma boa tentar estudar fora do caminho tradicional, colocar o estudo como algo com regras mais flexíveis. Eu acho que não nasci pra estudar do jeito que as matérias são expostas. É aquela história de possuirmos uma inteligência diferente das demais, alguns possuem a musical, por exemplo.
    E termino o que disse com a mesma frase de Wata: Não se force demais, Chan. ♥

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    1. Muito obrigada pelo comentário, Estefânia. =)

      Pois é, eu não vou me forçar demais.
      Durante esse tempo tenho feito o máximo que eu pude para não em comparar com as pessoas, obedecendo meu ritmo lento mesmo, mas mesmo assim tenho falhado. Mas vou fazer como vocês já disseram, não vou levar tão a sério assim, para que não me cause angústia.

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  3. Oi, Chan!

    Fico contente em saber que pretende buscar ajuda profissional.

    Mas com relação a psiquiatria, tenha uma posição atenta e crítica. Pois, muitos pioram com os medicamentos.

    Há bons psiquiatras. Ao meu ver, são os que menos recomendam medicação; apenas recomendam a medicação por um período ou ou recomendam uma dosagem sem abusos.

    A experiência que eu tenho na parte dos profissionais de saúde mental, particularmente, a psiquiatria é que, dificilmente, encontrará uma medicação boa de fato.

    Para evoluir no tratamento, precisa ter conversas francas e ser objetiva sobre as suas dificuldades diárias. Além de ser muito importante haver empatia e confiança na relação paciente médico e ou psicólogo.

    Com relação a psicoterapia, seja individual, seja em grupo, enfatizo que deve haver uma confiança sobre o profissional.

    Porém nem sempre podemos escolher o profissional. Mas se houver a possibilidade, é bom sim passar em médicos, terapeutas, psicólogos distintos até encontrar os que sente maior confiança.

    Eu apoio a sua iniciativa de buscar ajuda. Vou torcer para que consiga.

    :)

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    1. Muito obrigada pelo comentário, Letícia!

      Desde que fiz essa postagem, desisti e retomei a ideia de buscar tratamento psiquiátrico e psicológico, várias vezes. Essa minha alternância de humor constante tem me prejudicado bastante.
      Eu sempre tive disso, mas meu humor tem atingido picos de estresse bem mais nesse ano de 2014. Foi o que percebi.

      Eu acho a ideia de ter que tomar remédio, muito , mas muito ruim. Eu não quero viver à base de remédios. os primeiros que eu tomei me fizeram mal com os seus efeitos colaterais. E eu não queria que vários medicamentos fossem testados em mim até que um desse certo. Queria algo certeiro.

      É difícil.

      Mas sim, Letícia, tentarei passar por um psicólogo e psiquiatra e falarei francamente. Irei direto ao assunto, sendo bem clara e precisa, sem exageros, etc. Eu realmente quero me tratar.

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  4. Ainda sobre a psicoterapia, se houver confiança no profissional, embora possa ser lento, os efeitos positivos surgem.

    É um aprendizado a lidar com os pensamentos problemáticos. Assim, a pessoa poderá restabelecer auto-controle ou boa parte.

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